A pedido da direção da CRB-regional Leste II apresentaremo, numa sequência de breves textos, elementos significativos da história da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). Serão apenas apontamentos, sem preocupação com o aparelho técnico de citações das fontes. No final daremos o elenco das principais publicações consultadas.
No ano que vem (2024) a CRB completará 70 anos de fundação. É importante “fazer memória”, pois isso tem tudo a ver com nossa “identidade” como consagrados e consagradas no Brasil. Dizia o Papa Francisco: “Sem memória nunca se avança; não se evolui sem memória íntegra e luminosa”.
A criação da CRB em 11 de fevereiro de 1954 só pode ser entendida num contexto histórico mais amplo. Os anos 50 do século passado são marcados por notáveis mudanças no cenário sócio-político e econômico-cultural. Estamos no período imediatamente pós-guerra (II Guerra Mundial, 1939-1945) e a reconstrução da Europa. Assistimos a uma rápida expansão do capitalismo. Igualmente há a “guerra fria” entre dois blocos políticos antagônicos: os EE.UU. e a União Soviética. No Ocidente aparecem incessantes manifestações por regimes verdadeiramente democráticas, movimentos que andam de mãos dadas com um forte crescimento econômico. Simultaneamente vemos o incremento do movimento da descolonização, tanto no Continente africano quanto asiático.
No Brasil há tentativas de estabelecer regimes verdadeiramente democráticos, embora mantenham um forte colorido nacionalista. Estamos no último período de governo de Getúlio Vargas (1951-1954), seguido pelo governo de Juscelino Kubitschek (1955-1961), com seu ousado programa desenvolvimentista: “Cinquenta anos(de progresso) em cinco (de governo)”! Forte é o sentimento anticomunista, artificialmente apoiado pelos EE.UU. A industrialização e o urbanismo marcam significativamente esses anos.
Na Igreja estamos nos anos finais do pontificado de Pio XII (1939-1958), período marcado por incipientes movimentos de renovação da Igreja, prudentemente apoiados pelo Papa. Destacam-se aqui o Movimento Litúrgico, bíblico e teológico. Mas o que chama especialmente a atenção é a Ação Católica (AC), o grande movimento do laicato católico, iniciada no pontificado de Pio XI (1922-1939), que agora se desdobra na “Ação Católica Especializada (ACE). Particularmente atuantes serão a JOC (Juventude Operária Católica), fundada pelo Padre Joseph Cardijn (1882-1967), na Bélgica, e a JUC (Juventude Universitária Católica). É na JOC (posteriormente integrada na ACE) que surge o famoso método do VER, JULGAR e AGIR, que marcará profundamente a pastoral na América Latina e no Brasil. Nesse contexto de uma Igreja em processo de renovação também não pode ser esquecida a contribuição singular do Movimento por um Mundo Melhor (MMM).
Está aqui globalmente o pano de fundo do nascimento da CRB (1954), dois anos após a fundação da CNBB (Conferência dos Bispos do Brasil), em 1952.
Continua…
Frater Henrique Cristiano José Matos.
Membro da Congregação dos Irmãos (Fráteres) de Nossa Senhora Mãe da Misericórdia, frater Henrique é pesquisador da história da Igreja, área na qual tem diversas publicações. Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1969), graduação em Curso Superior de Pedagogia – Pedagogische Akademie Sint Stanislaus (1964), mestrado em Teologia pela Pontifícia Facultas Theologica Teresianum (1984) e doutorado em Teologia pela Pontifícia Facultas Theologica Teresianum (1989).
