A vida cristã é convidada essencialmente a percorrer o Caminho (Jo 14,6), o único, inédito e sem volta: Jesus Cristo. Essa imagem é muito significativa para os que desejam entender a própria existência desde um projeto concreto, centrado na busca pelo sentido e na realização da vontade de Deus. Caminho é movimento, envolvimento ativo, abertura de horizontes. Quem caminha precisa de pés firmes, olhos transcendentes, mãos abertas, coração sensível, disposição, motivação ao kairós e ardente amor a Jesus Cristo, a fonte de água viva que mata a sede do passageiro e eterniza os afetos.
A Vida Religiosa Consagrada, inserida no tempo e no movimento de Deus, tem desde as origens o dom de chamar homens e mulheres para caminhar nos passos do bem-aventurado Mestre. A vocação, portanto, parte do coração apressado e ardente de Cristo que deseja salvar a humanidade e espera dos escolhidos um sim edificante e envolvido na mística do caminho, com abertura aos campos do mundo, semeando o trigo da bondade e ceifando o joio da desesperança.
Toda vocação é uma resposta livre norteada pelo apelo de Deus que ama e faz amar. É resposta consciente que vai se purificando nas páginas do Evangelho e se comprometendo em fertilizar os terrenos onde a Palavra cairá. Por meio dos diversos carismas na Igreja, os chamados vão se moldando nas gentilezas do Salvador e atraindo pessoas dispostas a fazer a experiência da compaixão através da solícita entrega.
Como o sim de Maria, o seguimento é livre, despojado da autossuficiência para que Cristo brilhe e irradie a serena face da misericórdia. É chamado ao discipulado que antes de tudo, se abaixa humildemente para servir lavando as feridas e a sujeira do sofrido. É um caminho de pastoreio como bons samaritanos, que rompem com a indiferença e o status da vanglória para tirar do chão aqueles que são filhos, imagem e semelhança de Deus. No caminho vocacional escutamos os gritos da humanidade e estabelecemos com a criação um novo vínculo de cuidado e solidariedade.
O chamado a seguir mais de perto o Senhor desde os carismas na Igreja é atenção plena ao Verbo feito carne excluindo qualquer ideologia ou doutrina que causem medo, ódio e sentimentos de dor aos que são parte do Corpo Místico de Cristo. Nossa missão é abraçar com os braços de Cristo e formar dentro da sagrada escuta da fé.
Toda vocação entendida como dom deseja revelar a graça de Deus. Não chamado ao individualismo e a fazer a vontade própria. Os que aparecem mais do que Cristo já deixaram o caminho na metade, são as vítimas de si e de seus ídolos disfarçados, infiltrados no estilo de vida cômodo e aparentemente seguro das estruturas religiosas. O próprio Senhor, que um dia “chamou quem ele quis” (Mc 3,13) se encarrega de separar seus eleitos das traições mundanas pela força do Espírito Santo.
A atualidade do chamado desde o caminho percorrido é permanente e cheio de obstáculos e cabe a cada um interpretar os sinais da presença de Cristo e superar as desilusões para que chegar à meta, à união plena com a Santíssima Trindade. Os ungidos do reino pelo batismo recebem a força de caminhar com o Ressuscitado atando suas vidas ao coração pulsante que transfigura os atos ordinários em milagres que dão sabor e alegria.
A nossa vocação no seio da Igreja é o amor, como bem expressou Santa Terezinha. Esse amor generoso e solícito que vai além das aparências e tudo acolhe para que sejamos um em sintonia e paz. Benditos os que acolhem sua vocação e dão o melhor de si a Deus e aos irmãos no caminho do reino. Em Cristo somos nova criatura, somos dom e luz.
Pe. Nilton Cesar Boni cmf (Missionário Filho do Imaculado Coração de Maria – Claretiano)