Vocações, Carismas e Ministérios em chave sinodal (IV Parte)

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O CHAMADO AO SEGUIMENTO BATISMAL

 

 

A última vocação destacada do mês de agosto põe em evidência o discipulado proveniente da dimensão Batismal, atingindo assim a todos os homens e mulheres que, pela graça do Batismo, constituem o povo Santo de Deus e que se esforçam, no cotidiano de suas vidas, viver o Santo evangelho.

Refletir sobre a vocação dos fiéis leigos e leigas na Igreja à luz da experiência Sinodal é tocar no núcleo duro da proposta, afinal, por mais que haja um discurso acolhedor e de incentivo à vocação dos leigos e leigas na Igreja, bem sabemos que a prática nos contradiz a todo momento, seja pela mentalidade clerical ou pelo desinteresse de muitos em assumir as responsabilidades de uma atuação eclesial mais efetiva, como alertava o Papa Francisco: “muitos leigos temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso que lhes possa roubar o tempo livre” (EG 81).

Esta privação dos leigos no cenário eclesial teria, segundo o Papa Francisco, duas motivações: “porque não se formaram para assumir responsabilidades importantes”, ou “por não encontrar espaço nas suas Igrejas particulares para poderem exprimir-se e agir por causa dum excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões” (EG 102).

O Concílio Vaticano II, há 60 anos, já reconhecia a dupla dimensão da vocação laical a qual deve se dar na Igreja e no mundo. “Os leigos realizam esta missão da Igreja no mundo, antes de tudo, por aquela coerência da vida com a fé, pela qual se tornam luz do mundo; pela honestidade nos negócios, com a qual a todos atraem ao amor da verdade e do bem e, finalmente, a Cristo e à Igreja; pela caridade fraterna que, fazendo-os participar das condições de vida, dos trabalhos, dos sofrimentos e aspirações de seus irmãos, prepara insensivelmente todos os corações para a ação da graça salutar; por aquela plena consciência da participação que devem ter na construção da sociedade, a qual os leva a esforçarem-se por desempenhar com magnanimidade cristã a atividade doméstica, social e profissional. Assim, o seu modo de agir penetra pouco a pouco no meio de vida e de trabalho” (AA 13).

Para o bom exercício de sua vocação, caberá uma boa formação preparatória e permanente, a qual, na maioria das vezes, deixa muito a desejar, não avançando muito além dos conteúdos vistos na preparação para o sacramento da Crisma, quando a pessoa está no início da juventude, não lhe são sendo ofertados outras possibilidades ao longo da vida e das questões que daí surgem. Muitas pessoas deverão correr atrás de sua própria formação e muitas vezes não encontrarão em suas comunidades, paróquias e grupos aos quais pertençam as oportunidades necessárias para formar-se com relação à sua fé e missão vocacional que devem exercer perante a sociedade.

Continua o Papa Francisco: “Apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais, este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade. A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral” (EG 102). Sem generalizações, quando se fala de formação dos leigos e leigas na Igreja se pensa de imediato em Bíblia e liturgia, áreas realmente importantes para a vivência batismal, mas insuficientes para um testemunho adequado perante a sociedade civil.

Já recordava o documento de Aparecida: “é importante recordar que o campo específico da atividade evangelizadora leiga é o complexo mundo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, assim como as esferas da família, da educação, da vida profissional, sobretudo nos contextos onde a Igreja se faz presente somente por eles” (DAp 174).

Na etapa Continental do Sínodo, a República Centro-Africana assim partilhou: “alguns párocos comportam-se como ‘dispensadores de ordens’, impondo a sua vontade sem ouvir ninguém. Os cristãos leigos não se sentem membros do Povo de Deus. As iniciativas demasiado clericais devem ser reprovadas. Alguns agentes pastorais, clérigos e leigos, por vezes preferem rodear-se dos que partilham as suas opiniões e ficar longe daqueles que têm convicções que lhes são hostis e deles discordam” (IL 58).

Igualmente provocadora é a contribuição da síntese da Namíbia: “Os leigos são capazes, cheios de talentos e dispostos a contribuir sempre mais, contanto que lhes sejam dadas oportunidades para o fazer. Ulteriores sondagens e estudos a nível paroquial podem abrir outros caminhos em que o contributo dos leigos pode ser imenso e o resultado seria uma Igreja mais vibrante e florescente, que é o objetivo da sinodalidade” (IL 100).

Ao constituir o ministério das Catequistas, o Papa Francisco faz questão de recordar a carta de São Paulo: “A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. A um é dada, pela ação do Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé, no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas, no único Espírito; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Tudo isto, porém, o realiza o único e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz (1 Cor 12, 4-11)” (AM 2).

São louváveis o empenho e o compromisso que muitos homens e mulheres demonstram pelas do Reino, da evangelização, em uma total entrega amorosa pela proclamação do Evangelho. Por todo canto, encontramos pessoas apaixonadas por Jesus e seu Reino, que se esforçam para que a Boa Nova faça efeito na vida do mundo e da Igreja.

Uma Igreja sinodal será uma Igreja circular, participativa, capaz de ouvir a todos, e que todos encontrem nela seu lugar, segundo a inspiração do Espírito. Temos muito a crescer neste sentido!

Ao fecharmos o mês vocacional, dirigimos a Deus nosso agradecimento por tantos leigos e leigas que se põem no caminho do Ressuscitado, dando testemunho de sua fé no ambiente familiar, no trabalho, na Igreja e na sociedade em geral.  Louvado seja Deus pela vocação de todos os batizados e batizadas.

 

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Referências

CELAM, Documento de Aparecida, 2007.

CELAM, Síntesis de la Fase Continental del sínodo de la sinodalidad en América Latina y el Caribe, 2023.

CONCÍLIO VATICANO II, Decreto Apostolicam Actuositatem, 1965.

FRANCISCO, Exortação Evangelii Gaudium, 2013.

XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão (Outubro de 2023).

 

 

 

 

 

 

 

Frei Oton Júnior, ofm

Equipe interdisciplinar da CRB Nacional

Equipe Teológica da CLAR

freioton@gmail.com

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