Vocações, Carismas e Ministérios em chave sinodal (I Parte)

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‘Sínodo’ é a palavra da vez no contexto eclesial. Ao recordar que Sínodo é o “outro nome da Igreja”, o Papa Francisco chama a atenção de que a dinâmica Sinodal não pode ser um evento pontual em meio a tantos outros, mas que se apresenta como um processo identitário do próprio ser Igreja.

Na etapa atual, temos em mãos o instrumentum laboris (Instrumento de Trabalho) da primeira sessão, a ser realizada em outubro próximo. Dessa vez, este documento não foi elaborado por uma equipe técnica de peritos que simplesmente seguiram a minuta das indicativas do Papa, mas é fruto de todas as etapas anteriores, como a Etapa Continental.

Chama a atenção, logo no primeiro olhar, que não se tratar de um texto já metodicamente formulado, mas construído em forma de questionamentos, os quais visam uma melhor vivência da sinodalidade. Mais do que respostas valem as perguntas.

Os Sínodos anteriores se pautavam em temáticas específicas, como a Amazônia, as famílias e a juventude; desta vez, propõe-se uma reflexão sobre o conjunto da Igreja, de modo que não é possível individuar grupos, regiões ou sujeitos eclesiais, o que se torna muito mais exigente e desafiador.

Dentre tantas temáticas possíveis de serem consideradas à luz da sinodalidade, inspirados pelo mês vocacional, tomaremos semanalmente as vocações individualizadas no mês de agosto para refletirmos – mesmo que de forma apressada – sobre sua relevância, os desafios que se apresentam e as possíveis iluminações sinodais que daí decorrem.

 

Primeiro domingo – presbíteros numa Igreja sinodal

No Brasil, costumou-se relacionar o Primeiro domingo de agosto à vocação presbiteral. O Concílio Vaticano II, no decreto Presbyterorum Ordinis (1965) já recordava que os presbíteros no Novo Testamento, embora estivessem devotados ao Senhor, não se afastavam da vida concreta das pessoas. Dessa forma, diz o Concílio: “os presbíteros, foram postos no meio dos leigos para os levar todos à unidade amando-se uns aos outros com caridade fraterna, e tendo os outros por mais dignos. É, pois, dever deles congraçar de tal maneira as diferentes mentalidades, que ninguém se sinta estranho na comunidade dos fiéis” (n.9).
Um dos entraves para uma vivência Sinodal e muito enfatizada ao longo do magistério do Papa Francisco é o clericalismo “uma força que isola, separa e enfraquece uma Igreja sã e integralmente ministerial, e indica-se a formação como caminho privilegiado para o superar eficazmente. (…) O clericalismo não é uma prerrogativa apenas dos Ministros ordenados, mas atua de formas diferentes em todas as componentes do Povo de Deus” (IL p.47); Se a sinodalidade tem a ver com um modelo circular, participativo, o clericalismo aponta para uma estrutura piramidal, na qual uns poucos decidem a vida da maioria.
A fase continental latino-americana do Sínodo dedica o capítulo VII justamente ao tema “Vocações, Carismas e Ministérios em chave sinodal”, no qual exorta: “Isso também implica repensar o modelo de ministério ordenado. Há quem diga que em suas comunidades há um “conflito entre o sacerdócio comum e sacerdócio ministerial”, bem como “modalidades de sacerdócio que não respondem às necessidades do Povo de Deus” (Camex). Não sabemos articular ministerialidade leiga e ordenada” (Caribe). Assim, se quisermos uma Igreja mais sinodal e missionária, “é necessário repensar o perfil dos ministérios, especialmente dos ministros ordenados, para que exerçam o seu ministério ‘em’ comunidade e não ‘sobre’ ela”, com uma formação “em estreita relação com a processos pastorais e a vida dos povos a quem vão servir” (Ceama-Repam) (n. 90).

 

Repensar a formação

O Instrumentum Laboris aponta que “as instituições e estruturas por si só não são suficientes para tornar a Igreja sinodal: são necessárias uma cultura e uma espiritualidade sinodais, animadas por um desejo de conversão e sustentadas por uma formação adequada” (n. 58). E o número seguinte enfatiza: “A promoção de uma cultura de sinodalidade implica a renovação do atual currículo dos seminários e a formação de formadores e professores de teologia, de modo que haja uma orientação mais clara e decisiva para a formação numa vida de comunhão, missão e participação. A formação para uma espiritualidade sinodal está no centro da renovação da Igreja” (n. 59). E no que se refere à corresponsabilidade da missão (p. 48), deixa o questionamento: “Quais podem ser as diretrizes para uma reforma dos currículos de formação nos seminários e nas escolas de teologia, em sintonia com a figura sinodal da Igreja? Como é que a formação dos Presbíteros os pode colocar em relação mais estreita com os processos pastorais e com a vida da porção do Povo de Deus que são chamados a servir?”

Ainda sobre a formação dos futuros presbíteros, o CELAM já havia se manifestado sobre a necessidade de superar o modelo tridentino, de seminaristas distanciados da realidade das pessoas: “Neste contexto é coloca o desafio de conseguir uma reforma de seminários e casas formação, especialmente quando algumas dessas instituições não ultrapassou sua forma tridentina. Muitas pessoas veem os seminários como casas fechadas que não favorecem a visão de um sacerdócio ministerial. É necessário continuar com a reforma atualizada da Ratio fundamentalis Institutionis sacerdotalis. Na formação dos candidatos ao presbitério devemos envolver as famílias, os leigos e as pessoas consagradas, os homens e mulheres. Isso foi enfatizado por todas as assembleias regionais” (CELAM, 2023, p. 75).

A mentalidade sinodal quer fazer efeito na vida de todos os batizados, a fim de que todos os serviços e ministérios sejam compreendidos e assumidos a exemplo do Mestre Jesus, no mesmo Espírito que animou as primeiras comunidades a ponto de terem tudo em comum.

Neste primeiro domingo do mês, agradecemos ao Senhor pelo dom da vocação presbiteral, e pedimos que Ele inspire os chamados a este ministério a um modelo participativo e corresponsável pela missão do Reino.

 

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Referências

CELAM, Síntesis de la Fase Continental del sínodo de la sinodalidad en América Latina y el Caribe, 2023.
Decreto Presbyterorum Ordinis, 1965.
XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Instrumentum Laboris para a Primeira Sessão (Outubro de 2023).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Frei Oton Júnior, ofm

Equipe interdisciplinar da CRB Nacional

Equipe Teológica da CLAR

freioton@gmail.com

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